MaRIas
Grupo de Investigación en Género y Relaciones Internacionales
Nota de repúdio - Invasão de encontro virtual do MaRIas
No nosso encontro de agosto de 2020 sofremos um ataque virtual, saiba mais sobre o caso e leia a nossa carta de repúdio. Não nos calarão!
Publicado originalmente no dia 7 de setembro de 2020 no Instagram das MaRIas
Nota de repúdio - Invasão de encontro virtual do MaRIas
No dia 31 de agosto de 2020, às 14h, nós do MaRIas (grupo de estudos de Gênero e Relações Internacionais das/os pós-graduandas/os do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP)) sofremos agressão enquanto promovíamos um encontro virtual intitulado “Pandemia e as mulheres na ciência”. O evento visava discutir o nosso artigo “Por que a pandemia afasta as mulheres da ciência?” publicado no site Outras Palavras. O encontro também contaria com a participação de Camila Infanger, integrante do projeto “Parents in Science”, trazendo contribuições sobre pesquisa, docência e parentalidade.
O evento teve ampla divulgação nas redes sociais das MaRIas, através de mailing, facebook e instagram. Além disso, outras instituições como a ABRI e o IRI-USP também auxiliaram nas divulgações. Os nossos eventos são sempre abertos à comunidade justamente porque acreditamos ser essencial a disseminação de conhecimento sobre gênero a diversos públicos, além de buscarmos a construção de espaços de discussão e troca plurais e respeitosas com pessoas de diferentes formações e contextos de vida. Assim, o link para acesso às nossas reuniões pela plataforma Google Meets sempre é disponibilizado de forma aberta, sem necessidade de inscrição no evento, e foi assim desde a primeira reunião online no início da pandemia. A plataforma utilizada, Google Meets, demanda aprovação dos moderadores das reuniões, mas para nós isso sempre foi mera formalidade desse sistema, já que todos sempre foram aprovados ao solicitarem entrada em nossos encontros.
A reunião de agosto iniciou-se pontualmente, contando com a presença de aproximadamente 13 pessoas. Ela estava transcorrendo normalmente, até que,por volta das 14:15, muitos perfis pediram para serem adicionados, e desses, dois nomes chamaram a atenção, o primeiro se identificava como “Feliciano” e o segundo como “Matheus Gregório”. A moderadora aceitou os perfis por pensar que se tratavam de Feliciano de Sá Guimarães, professor do IRI-USP, e Matheus Gregório, aluno da graduação da mesma instituição. Além desses perfis, outros com nomes comuns como “Paulo” e “Roseli” pediram para serem adicionados, não gerando suspeita. No entanto, quando perfis como “Thomaz Turbano” e outros tentaram entrar ficou claro que era mais um episódio de “hackeamento de reuniões”. Os perfis supracitados e outros começaram a gritar, colocar música alta, mandar mensagens no chat para impedir o andamento da reunião. Um dos perfis, inclusive, acionou sua câmera revelando uma pessoa com a máscara do personagem V, da graphic novel V de Vingança. Outro disse que a sala tinha sido hackeada. Os inúmeros "trolls" zombavam da reunião e das membras, rindo, as chamando de ditadoras e ironizando a relevância do tema. Mesmo com a moderadora removendo essas pessoas do encontro, elas voltavam rapidamente, pois uma vez autorizadas na plataforma, o moderador não consegue mais impedir sua reentrada na sala de reunião. Por fim, tendo em vista a impossibilidade de continuar o encontro e a exposição à essa forma covarde de violência às participantes da reunião, as moderadoras do MaRIas decidiram encerrar o evento e remarcá-lo, divulgando breve comunicado do ocorrido em suas redes sociais.
Sabemos que esses tipos ataques têm acontecido com diversos grupos, principalmente naqueles que se dedicam a debater temas de gênero, como foi o caso de encontro promovido pela Universidade Estadual do Norte do Paraná. Em matéria publicada no site UOL, aponta-se que esse triste “fenômeno” já ganhou inclusive nome “zoombombing”, e na maioria das vezes vem acompanhado de demonstrações de violência de gênero ou de viés político partidário. Essa velha violência adaptada para o contexto das redes é mais um ataque misógino que busca silenciar o debate de causas sociais importantíssimas, acreditando que não serão identificados ou que não sofrerão consequências desses atos virtuais. Esses grupos só conseguem agir por que as plataformas digitais negligenciam a segurança para usuários de seus sistemas, ao mesmo tempo que ampliam os direitos sobre nossa privacidade. A segurança digital e o papel das grandes corporações do Vale do Silício é um assunto de mulheres, por que enquanto houver desigualdade de gênero nós seremos as mais afetadas por essas omissões, como nossa própria experiência demonstrou.
O ataque também só foi possível em contexto de polarização política E intensificação da "caça às bruxas" exercida pela criminalização de grupos, ideologias e movimentos sociais. A violência que sofremos é mais uma face da crise da nossa democracia. Nesse cenário, a Universidade tem sido duramente difamada, subfinanciada e desmobilizada. Infelizmente, a acadêmica vem sofrendo severos golpes grupos políticos que incitam ódio por onde se produza conhecimento. A educação é a maior arma que temos contra o machismo, o preconceito de diversas matizes, o fundamentalismo, o fascismo e o totalitarismo. Por isso, a nossa luta por igualdade de gênero vai continuar! NÃO NOS CALARÃO!
Esse episódio não vai comprometer o andamento das atividades de nosso grupo, pelo contrário, só nos deu mais determinação em continuar a discutir gênero. Mesmo que, a partir de agora tenhamos que reformular a organização de nossos encontros de forma a garantir a nossa segurança e de nossas/os participantes, esses invasores não nos calarão. Essas violências virtuais contra mulheres só demonstram a necessidade urgente de se avançar na luta pela igualdade de gênero na academia, no Brasil e nas Relações Internacionais e o MaRIas seguirá na linha de frente dessa luta!
MaRIas - Grupo de estudos em gênero e Relações Internacionais do IRI-USP